Foto: Muc-Off/Divulgação |
Um ser humano sobrevive de 3 a 5 dias sem água. Note que escrevemos sobrevive. Um dia sem água já é suficiente para causar danos! A água compõe 60% do peso de um adulto e é usada no nosso corpo na circulação, respiração, reações químicas, transporte de alimentos, oxigênio e sais minerais. Ainda atua nas articulações, na urina, na pele, e até mesmo nos ossos.
Nenhum ser humano, em sã consciência, fica dias sem tomar água. Se as bicicletas tivessem vida própria, também não ficariam mais do que podem sem seus lubrificantes – graxas e óleos, principalmente - devido aos essenciais papéis que desempenham. Mas espera aí! Sendo você o dono, essa responsabilidade é sua! Você dá à sua bicicleta o que ela precisa?
A importância
Resumidamente, os lubrificantes atuam em toda parte onde metal fricciona metal. E metal que fricciona metal é problema. O desgaste resultante é muito grande, e ele se agrava conforme a temperatura sobe. Além disso, metal não escorrega bem sobre metal, então o desempenho será reduzido.
Para isso há uma solução: compostos escorregadios e teimosos, que não costumam sair com facilidade. Isso os torna excelentes intermediários para apaziguar os atritos entre metais. E como cumprem bem seu papel! Já girou uma roda nova de uma bicicleta, talvez em um bike shop? Chega a ser relaxante...
Nas bicicletas, os lubrificantes atuam na corrente, movimento central, suspensões, pivôs de suspensão e condutores de cabos. Ainda podem ser úteis nas roscas dos pedais e na base do canote de selim, para facilitar a remoção e prevenir a ferrugem.
Mas como nada dura para sempre, os lubrificantes precisam de reposição regular para que os metais não voltem a brigar. Existem dois principais fatores que exigem a troca de um lubrificante: quando ele diminui ou acaba – o que pode ser causado por longo uso ou pela água - e quando sujeira se mistura a ele. A sujeira faz com que, mesmo havendo lubrificante, volte a existir atrito devido às partículas rígidas da poeira, areia ou barro. Esses componentes também podem conter sal ou partículas corrosivas, que favorece a ferrugem.
Portanto, sua bike deve ser regularmente lubrificada, ou os danos começarão logo que o lubrificante perder sua eficácia.
Equilíbrio e lugar certo
Tudo tem limite – e com lubrificantes não é diferente. Se você exagerar na dose eles causam problemas também, assim como beber água demais. Acredite, já teve gente que morreu bebendo mais água do que deveria. O rendimento elevado faz com que quantias pequenas de lubrificante sejam necessárias, apenas o suficiente para escorregar.
É aqui que entra a muito comum expressão ‘remova o excesso’. Ela mostra uma verdade muito simples sobre o lugar dos lubrificantes, que nós podemos mais uma vez comparar com a água no nosso corpo. Você toma banho toda vez que bebe água? Provavelmente não, por que você precisa da água dentro do seu corpo, e não fora. E mesmo depois do banho, você se enxuga. Quem precisa permanecer molhado o tempo todo são os anfíbios.
Os lubrificantes foram feitos para atuar dentro de peças e entre metais, não por fora delas. Quando ficam no lugar errado, podem trazer alguns problemas. Eles atraem sujeira, como poeira e partículas, que aderem a eles e podem acabar parando nas partes internas da bike. Sempre mantenha sua bike seca e limpa por fora, removendo excessos. Isso inclui e até mesmo prioriza a corrente.
Outro problema causado por lubrificantes fora do lugar é a lambança. Além de sujarem você e suas roupas, esses lubrificantes podem sujar peças que não podem receber óleos e gorduras, como os discos de freio, aros e pastilhas. Quem já teve a infelicidade de sujar um disco ou pastilha sabe a frustração que é frear sem ter uma resposta sólida e ainda ouvir um alto e irritante barulho ao apertar mais as alavancas. Em alguns casos, limpar bem o disco e lixar a pastilha resolve, mas se a quantidade de lubrificante foi grande, você terá que trocar as pastilhas.
Não existe boa lubrificação sem limpeza!
Beber água suja não seria muito proveitoso. O lubrificante não virá sujo de fora, mas se você colocá-lo em uma peça que não foi limpa, o efeito é similar. Limpar bem as peças que vão receber a lubrificação é tão importante que, se não houver como fazê-lo, pode ser melhor deixar as coisas como estão até poder fazer a limpeza e troca do lubrificante.
A peça que mais precisa de limpeza e lubrificação regulares é a corrente. Só depois de deixá-la limpa e seca com o auxílio de removedores de graxa e algumas horas de sol para secar, é que você deve passar óleo na sua corrente.
O ideal é limpar a bike inteira, periodicamente. Isso vai depender do quanto você a usa. Quando você pegar chuva forte ou lama, deve limpar a bicicleta imediatamente, e assim que chegar em casa, secá-la e lubrificá-la. Essas situações geram uma probabilidade muito maior de causar danos na sua bicicleta.
Use os lubrificantes certos
Quando se fala em cuidados com a corrente, muitas pessoas pensam em graxa. Mas graxa, além de ser um termo que pode se referir a vários produtos, não é apropriada para correntes. A graxa costuma ser mais espessa, especialmente a que é usada por mecânicos não especializados, uma graxa escura e muito pastosa. Essas graxas não vão penetrar nos elos da corrente e ainda vão facilmente sujar sua roupa ou uma pastilha de freio.
Correntes precisam de óleo lubrificante apropriado. Que fique bem claro que isso não inclui desengripantes como WD-40 - a própria WD-40 desenvolveu lubrificantes específicos para correntes, diferentes do propriamente dito WD-40. Esses são produtos multiuso, e podem até ser úteis para eliminar a ferrugem da sua corrente, mas certamente não são apropriados para lubrificá-la durante muitos e muitos quilômetros. Outro produto que pode até quebrar um galho em uma emergência, mas que não é lubrificante de corrente, é o óleo para máquina de costura. Esses óleos, como o famoso Singer, são feitos para condições em locais fechados, não para atuar ao ar livre recebendo constantemente poeira, lama e água.
Existem no mercado várias marcas de lubrificantes específicos para correntes, como Finish Line, Muc-Off, Morgan Blue e Squirt. Eles não só são específicos, como também apresentam variações para cada clima: há versões para clima úmido, para clima seco e versões que servem para ambos os climas.
Já outras peças podem demandar diferentes graxas. Cubos, movimento central, caixa de direção ou outras peças que utilizem rolamentos possuem graxas específicas fabricadas por empresas como a americana Finish Line. Outras graxas também podem ser usadas, desde que tenham a densidade e composição similar.
Programação
Tem dificuldade para lembrar de cuidar da sua magrela? Não se preocupe, para quase tudo existe um remédio, e nesse caso, se chama programação. Se você está bem integrado aos eletrônicos, pode criar eventos ou lembretes em datas nas quais você terá tempo para isso. Poderá programar lembretes semanais, mensais ou anuais.
Caso prefira, um calendário grande com espaço para escrever nas datas também é muito útil. Como ele não tem o recurso de fazer barulho para te lembrar, coloque-o em um lugar que você frequenta todos os dias, como o lugar onde você guarda sua bicicleta ou a geladeira.
Se você faz essas manutenções em um bike shop, lembre-se de marcar mais uma data no seu calendário, mas desta vez para agendar com antecedência o serviço, ou pode acabar sem um horário.
Capriche!
Falar para todo mundo que você é um ciclista que ama bicicletas é muito fácil. Mas você só vai provar o amor à camisa pedalando e cuidando bem da sua bicicleta. Por isso, capriche com a magrela, não só por se programar para limpar e lubrificar ela, mas por fazer isso cuidadosamente. Aproveite essas ocasiões para verificar como está sua bike, procurar por trincas, peças danificadas e desgastes; corrija o que puder assim que puder.
Bicicleta cara não é garantia de funcionalidade. Dono caprichoso é que é.
Fonte: Revista Bicicleta por Pietro Petris
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