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quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Quando os holofotes ofuscam

Foto: Tânia Carmonário
Ela sente um pingo de suor escorrer da sua testa até a ponta de seu nariz. Sabe que ainda falta muito para chegar ao final e sua respiração está tão ofegante que não sabe mais distingui-la do batimento cardíaco. O sol está queimando suas costas, o que a deixa ainda mais cansada, mas tem que seguir em frente.

Não há outro pensando em sua mente além dos filhos e da família. Os únicos que estiveram ao seu lado durante todos esses anos de dedicação, de momentos de ausência necessária, de momentos tensos e não tão tensos assim...

Tudo o que vê a sua frente é um enorme vazio, somente ela, Deus e a natureza. Uma vez ou outra, ela nota o motor de algum carro ou moto. Está tão concentrada que acha que isso é apenas ilusão.

As pernas nem doem mais. O cansaço começa a dar lugar à esperança, a alegria de rever seus filhos e um breve sorriso aparece em seu rosto.

É quando ela avista a linha de chegada. Faltam poucos metros para chegar. Nesse momento ouve os gritos do público, que são poucos e continua pensando em seus filhos.

Vamos! Você consegue! Vamos! Vamos! É o que ouve das pessoas gritando perto dela. Falta pouco, bem pouco.

E finalmente ela cruza a linha de chegada, sozinha. Deixando as concorrentes atrás, bem para trás. Ela vê os filhos correndo na sua direção e ela os abraça com força.

Quase sem fôlego, com o corpo todo suado, olha a sua volta e vê que há poucas pessoas prestigiando este momento que para ela é tão especial. Poucos repórteres também estão por lá. Um ou dois se aproximam dela para perguntar como foi a corrida, e ela só tem que agradecer àqueles que ficaram com ela esses anos todos, apoiando esse trabalho tão difícil que é ser uma ciclista em competição.

A cerimônia de premiação é breve e ela logo vai pra casa, feliz em companhia dos seus filhos. No dia seguinte, apenas uma notinha de jornal falando sobre a competição. Ela sorri apenas, pega sua bicicleta e vai treinar como sempre faz.

Por que lemos muito pouco sobre as mulheres que competem pelo mundo afora? Por que muitos não dão valor para essas guerreiras que têm que treinar, cuidar da família e filhos e ainda ganhar medalhas?

Fonte: Revista Bicicleta por Tânia Carmonário

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