Foto: Iagodina / Depositphotos |
Na semana seguinte, vem a clássica depressão pós-prova. Você estuda o tema e aguarda ansiosamente que a depressão passe. Enquanto isso, aproveita as “férias” e faz outras coisas, come tudo o que se privou, encosta a bike. Passadas algumas semanas, você começa a querer voltar a treinar, já encheu o saco da esbórnia. E, cheio de gás, começa a querer retomar a rotina. Eis o início do seu primeiro inferno com o esporte. Parabéns!
Você volta a correr e acha horrível. Não consegue saber como é que você pode destreinar tanto. Começa a amaldiçoar as férias que teve. Não entende como um dia você mesmo foi capaz de ficar 4 h na bike, se agora qualquer 30 min já acabam com a sua paciência. Tudo é um saco. É difícil acordar, horrível correr, chato nadar, impensável lidar com tanta tralha do pedal. Você não se reconhece. Não entende como foi que um dia fez o que fez.
Numa busca desenfreada pela explicação, entra no conflito existencial: será que eu sou o da esbórnia ou o da disciplina? Acha que estava neurótico demais, chato demais, Caxias demais. Mas no fundo pensa que gostaria de estar naquele momento como estava antes de entrar nestas “férias”. Fase chata. Tenta largar o esporte. Não consegue. Tenta voltar. Acha horroroso. Crise.
Agora, tente responder: por que você faz esporte de Endurance? Se você fosse responder de bate-pronto o que mais gosta no esporte, você diria:
- Sou fascinado por competir
- Minha paixão é lidar com a solidão
- Gosto do contato com a natureza
- Curto os equipamentos e técnicas
- Vibro com a melhoria da performance
- Sinto que cuido da minha saúde
- Gosto de superar desafios
- Adoro treinar com a galera
- Quero descobrir novos locais
- Curto treinar por treinar
Que chance tem de alguém que é extremamente competitivo se sentir motivadão numa fase em que está trabalhando mais do que o normal, com dificuldade de comer corretamente, dormindo pouco, com a rotina atrapalhada? Vai fazer o quê? Parar de treinar? O que fazer com alguém que adora treinar sozinho numa fase em que não consegue se mover pra fora de casa? Desistir? Comer pipoca?
Eis que chegou a hora da revelação da minha fórmula mágica: use a motivação mais adequada ao momento em que você está. Não adianta dar murro em ponta de faca. Se você adora ter contato com a natureza, mas está sendo forçado a fazer treinos indoor, que tal encontrar o prazer de lidar com seus próprios pensamentos? Se você é extremamente competitivo, mas está fora de forma, acima do peso, destreinado ou sem tempo para treinar, que tal descobrir o prazer de olhar para o nascer do sol, que você sempre passa sem sequer notar?
Por experiência própria, insistir na tentativa de buscar sua motivação mais motivadora numa fase inadequada, fará você perder ao invés de ganhar forças. Busque aumentar seu leque de motivações. Experimente treinar em equipe se treinar só está chato. Largue seu ciclocomputador se você está mais lento do que gostaria e isso o faz mal. Inscreva-se em uma baita prova se isso o fizer sair do marasmo. Cancele sua prova se ela está fazendo você treinar menos. Se você fará uma prova e não está tão treinado quanto gostaria, experimente fazer acompanhando um amigo iniciante.
Esporte combina com alto-astral, sorriso, bem-estar, prazer, união, conquista, realização, superação, inclusão. Se está trazendo estresse, preocupação, ansiedade, tristeza ou mau humor, há algo muito errado. Isto não quer dizer que você vai sair da cama às 4 h da manhã berrando “Iuuuuuuuuuuuuuuupi! Vou treinar!”, mas se isso está deixando você incomodado, mal, não está bom. Descubra novos porquês! Aumente seu portfólio de razões para investir tantas horas da vida.
Preserve-se! Mantenha o seu bem-estar e a sua serenidade. A sobrevivência e a permanência no esporte tem muito mais relação com a sua capacidade de adaptação à sua realidade que com a quantidade de troféus que você tem na sua estante. Seize the day!
Fonte: Revista Bicicleta por Aline Carvalho
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