Bicicletário lotado |
Embora muitos brasileiros relacionem sofisticação à posse de automóveis, é a bicicleta que ganha terreno como símbolo de desenvolvimento. A circulação maciça sobre duas rodas em cidades do Primeiro Mundo, onde a alternativa chega a ser oferecida quase de graça à população, demonstra que pedalar se consolidou como um modo de vida nas nações mais civilizadas.
Uma das razões para isso é que as principais cidades desses países enfrentaram antes dilemas como falta de espaço, problemas de trânsito e excesso de poluição – elementos que os porto-alegrenses discutem desde ontem até domingo no Fórum Mundial da Bicicleta. Conforme a diretora de projetos e operações da ONG Embarq Brasil, Daniela Facchini, o uso das bicicletas já faz parte da cultura da população, principalmente na Europa.
Essa relação se reflete em números. As 20 cidades consideradas mais favoráveis ao uso da bicicleta, de acordo com relatório da consultoria dinamarquesa Copenhagenize, estão em países com PIB anual per capita médio de US$ 36 mil – enquanto a cifra mundial é três vezes menor.
Em comparação ao topo da lista, percebe-se o quanto Porto Alegre está distante. Enquanto a primeira colocada, Amsterdam, na Holanda, tem mais de 400 quilômetros de ciclovias, a Capital soma cerca de oito quilômetros – 50 vezes menos. Mas a infraestrutura necessária para que se use a bicicleta como meio de transporte – e não apenas de lazer – é bem mais complexa.
– São necessários estacionamentos próprios, tanto em pontos de conexão com outros meios de transporte, quanto nos locais de trabalho – sustenta Daniela.
As vantagens de se deslocar sobre duas rodas de forma rotineira, conforme o professor da Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) João Fortini Albano, são inúmeras. No espaço onde cabe um carro, é possível estacionar 10 bicicletas. Em distâncias de 400 metros a 1,5 quilômetro em grandes cidades, o trajeto é percorrido mais rapidamente sobre duas rodas. E tudo isso sem impacto ambiental – a cada 5 mil bicicletas em circulação, deixam de ser lançadas 6,5 toneladas de poluentes na atmosfera.
Essas comparações estimulam projetos como a oferta de bicicletas públicas, a exemplo de Paris.
– Na Europa, há uma conscientização muito grande. Aqui, estamos acordando para isso e percebendo que bicicleta não é só para o deslocamento do pobre ou o lazer do rico. É solução de problemas – observa Albano.
Conforme Albano e Daniela, a situação vem melhorando – como exemplifica o caso do arquiteto da Capital Fabrício Schwendler, 35 anos. Ele pedala de casa, em Ipanema, na Zona Sul, até o trabalho, na Cidade Baixa.
– Sempre que vou ao escritório de bike chego mais disposto. Consigo me desligar mais do mundo, faço quase que uma meditação durante o percurso. De carro, me sinto mais preguiçoso – afirma.
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