Foto: Ivonne Wierink-vanWetten |
No início da década de 1970, com a crise do petróleo, a Holanda iniciou programas para incentivar meios de transporte ativos e coletivos. A bicicleta ganhou espaço e assumiu lugar de destaque no país. Atualmente, existe uma bike para cada um dos 16,7 milhões de habitantes, sendo que a frota de automóveis é bem menor, cerca de 7 milhões.
De acordo com a União Nacional dos Ciclistas, os holandeses contam com 29 mil quilômetros de ciclovias ou ciclofaixas, usadas por um em cada dois estudantes. Cerca de 25% dos trabalhadores também se desloca de bicicleta.
Nesse cenário, surgiu um problema: faltam vagas para estacionar a bicicleta. Segundo pesquisas, a capital, Amsterdã, tem um déficit de 100 mil vagas, apesar dos seus dois megaestacionamentos nas proximidades da estação central de trem: um com capacidade para 1,2 mil bikes, e outro com três andares flutuantes que podem acomodar 2,5 mil bicicletas. Até um barco da cidade foi adaptado e serve de bicicletário, com 400 vagas. Estacionamentos subterrâneos, como o do mercado de ações Beurs van Berlage, com 1,1 mil vagas, também vivem lotados.
O governo disponibiliza outra solução: uma espécie de caixote que acomoda até cinco bicicletas, disponibilizado para usuários mediante pagamento de uma taxa anual. O problema é tão sério que 800 ciclistas tiveram suas bicicletas recolhidas pelas autoridades nos três primeiros meses desse ano por estacionarem em local proibido.
A crise econômica que também afeta o país torna o espaço - principalmente em uma capital como Amsterdã - mais caro e disputado. Como é na crise que surgem as boas ideias, o engenheiro Matthijs Griffioen estudou o caso e verificou que a solução não deveria ocupar mais espaço na terra, mas sim no ar. Ele desenhou um "elevador" que transportaria as bicicletas até o teto de construções, onde ficariam armazenadas. Um painel eletrônico avisaria a cada segundo o número de vagas disponíveis. Parte da energia para manter o elevador e o painel viriam de placas solares. Por enquanto, é apenas uma ideia, mas a Holanda está na vanguarda nessa questão.
O certo é que a população já está pressionando o governo a encontrar soluções. A cidade de Utrecht, por exemplo, a 40 km da capital, está tendo suas construções readaptadas para oferecer vagas às bicicletas. Segundo os responsáveis pelas reformas, 22,2 mil vagas serão criadas na região central. Para manter o projeto, o governo irá custear uma parte dos gastos, mas pretende cobrar uma taxa dos usuários. O valor pode chegar a 1,50 euro por dia. Se funcionar em Utrecht, outras cidades, como Roterdã e Haia, que igualmente sofrem com a falta de vagas para bicicletas, também receberão o projeto.
Pagar para estacionar a bicicleta não é novidade na Holanda. Os primeiros estacionamentos privados surgiram há cerca de 10 anos e 30% das vagas atualmente são pagas. Mas a população não tem visto com bons olhos essa taxação governamental. Muitas pessoas possuem duas, três bicicletas em cidades diferentes, guardadas nos bicicletários das estações. Para elas, ficaria muito caro. Ativistas alertam que o governo precisa tomar alguma decisão melhor, visto que o problema tende a se intensificar.
De qualquer maneira, o incentivo à bicicleta é defendido e a magrela é sinônimo de segurança e fluidez na Holanda. Em 1971, quando as primeiras ciclovias foram construídas, a morte anual de crianças no trânsito alcançava o número de 400; atualmente, são 14. Além dos espaços adequados para pedalar, desde pequenos os holandeses estão acostumados a conviverem com o grande número de bicicletas nas ruas, o que os fazem ter a cultura da bicicleta e a consciência de que a bike é solução para o tráfego intenso dos grandes centros urbanos.
Os jovens também têm aulas teóricas e práticas de trânsito com foco na bicicleta. Aos 12 anos, os holandeses já conhecem as regras para pedalar com segurança e vão de bicicleta sozinhos até a escola, às vezes por vários quilômetros. São realizadas dinâmicas que incentivam o respeito e tolerância entre condutores de automóveis e ciclistas. Com essa base educacional e com a experiência de ser ciclista, quando o jovem completa a idade para fazer a carteira e decide conduzir um automotor, já possui uma visão bem definida de como se comportar no trânsito. Por isso, tendo boa infraestrutura e informação desde cedo, os holandeses sentem-se seguros e podem usar eficientemente a bicicleta como veículo. Aí começam a surgir os problemas "bons".
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