Depois de assumir uma nova postura, mais calma, paciente e “slow bike”, nos meus deslocamentos pela cidade, resolvi falar agora sobre um outro lado mais agressivo, por assim dizer, ligado a velocidade e esforços máximos sobre duas rodas. Adrenalina, diversão, superação e prazer
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A velocidade máxima chegou a passar dos 80km/h. Foto: Tag and Juice/Divulgação |
Falo isso por que participei recentemente de uma mini-competição de corrida sobre “rolo” – instrumento feito para o ciclista pedalar sem sair do lugar. É muito legal pedalar rápido. E esse tipo de experiência sempre me faz refletir sobre a necessidade de termos equipamentos públicos disponíveis para as pessoas exercitarem suas vontades de correr, pular, fazer pirueta e extravasar toda a adrenalina dentro de si. O evento foi organizado pela loja Tag and Juice, que fica na Vila Madalena, e reuniu dezenas de pessoas que queriam testar seus limites.
Eu concentrada ao lado da minha adversária, Juliana. Foto Ana Paula Leonc |
Opções
Velódromo de Caieiras/SP |
Outra opção utilizada são as rodovias, para pedalar nos acostamentos, mesmo sabendo que o poder público desconsidera oficialmente a presença dos ciclistas (inclusive de moradores das cidades próximas), fechando os olhos e se omitindo de garantir a nossa segurança (por vezes até proibindo nossa presença) em um espaço onde temos direito legal de circular, seja a lazer ou por necessidade de deslocamento.
USP
A Universidade de São Paulo recebe diariamente pelotões de ciclistas que usam as ruas do Campus para treinar, mas por se tratar de um ambiente de circulação intensa de pessoas, vez ou outra os ciclistas são recebidos com tachinhas no chão para sabotar a prática. Um conflito desnecessário, que mostra a intolerância e falta de respeito de todos.Por outro lado, em 1975 foi construído nas dependências da Cidade Universitária um velódromo para receber as competições de ciclismo no Pan-Americano de São Paulo – antes dos jogos serem transferidos para a Cidade do México.
O velódromo é uma espécie de autódromo de ciclistas, um local fechado, com percurso oval delimitado e sem circulação de pedestres. Mas o da USP está fechado desde o final dos anos 80. A administração e a cidade abandonaram um dos equipamentos públicos mais eficientes para dar vazão à parte mais “agressiva” do ciclismo de velocidade.
No Brasil, existem atualmente poucos velódromos disponíveis, como os de Caieiras/SP, Rio de Janeiro/RJ e Curitiba/PR. Mas, de acordo com relatos de usuários, dentre estes três apenas o do Rio é bem feito, bem conservado, bem frequentado e um exemplo de investimento de qualidade no ciclismo.
Segundo uma matéria da Folha de São Paulo, publicada em agosto de 2011, “o diretor do Cepeusp (Centro de Práticas Esportivas da USP), Carlos Bezerra de Albuquerque, diz que está aberto para que os ciclistas façam propostas para o uso do espaço. Dessa forma, seria possível tentar verbas no Ministério dos Esportes ou com a iniciativa privada. Quanto a verbas próprias da universidade para a reforma, o diretor afirma que a instituição não colocou o velódromo como prioridade, mas que já existe um plano diretor com projeto para reforma do espaço”.
Leia mais: E o velódromo da USP
Caieiras
A pista de Caieiras fica a 40 km de São Paulo e conheço muita gente que vai até lá para soltar os freios e pedalar muito forte. É o caso dos adeptos das fixed gears - “roda fixa” – bicicletas simplistas e sem marcha muito utilizadas em competições de velocidade em outros países, que ganhou as ruas das cidades graças à sua baixa manutenção, beleza e conexão completa com o corpo. Entenda melhor o funcionamento dessas bicicletas.Veja nesse vídeo do André Seitsugo como a galera do Clube de Ciclismo da Ciclo Vila se diverte pedalando no velódromo de Caieiras. Eu já experimentei e recomendo, é uma experiência transcendental e inesquecível!
Ciclovia no autódromo
Projeto do Autódromo. Imagem: Divulgação |
Segundo reportagem da Folha de São Paulo, o projeto completo para o autódromo conta, ainda, com área de parque, pista de skate, quadras e um Museu do Automóvel (e por que não fazer também um museu do ciclismo?)
Se concluída, essa área de ciclovia será outra ótima opção para os ciclistas que gostam de treinar forte, profissionalmente ou não. Inclusive a Ciclovia Rio Pinheiros chega bem perto do Autódromo, dá até pra ouvir o barulho dos motores rasgando o silêncio e abafando o som dos pássaros que sobraram perto do Rio.
Ciclismo também é esporte!
Ciclistas também se divertem, correm, competem, têm ídolos e movimentam um mercado consistente. Uma pena o Brasil não dar valor às modalidades esportivas menos “cobiçadas”, principalmente quando elas têm um potencial revolucionário de transformar nossas cidades. E até pessoas.Enquanto isso, ficamos discutindo monotematicamente na frente da TV os gols do Neymar, assistindo de camarote a violência das torcidas organizadas e sendo cúmplices de transações obscuras e bilionárias para tudo que ronda o mundo da bola.
É mais ou menos o que fazemos ao assumir que todo brasileiro é apaixonado por carro: limitamos as escolhas, desrespeitamos as pessoas.
Vá de Bike - Aline Cavalcante
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