O sistema Belt Drive, correia no lugar da corrente
Bicicletas que usam correias dentadas no lugar das tradicionais correntes
Primeiras bicicletas a usar correia |
Na Europa, alguém de vez em quando teimava em aposentar a confiável corrente metálica. Na década de 90, alguns poucos modelos de bikes adotaram o uso da correia.
Foi em meados da década de 80 que as correias voltaram a emprestar sua força para o mercado de duas rodas. Dessa vez, as correias ganharam dentes, como as utilizadas no comando de válvulas dos automóveis. A eficiência foi tanta que o equipamento passou a equipar motocicletas com até 150 cavalos de potência e também a impulsionar dragsters com potência de até 6 mil cavalos. O caminho estava aberto para as correias chegarem nas bicicletas.
BELT DRIVE
As correias dentadas ganharam credibilidade e atenção da indústria no final de 2008, quando a Trek apresentou numa feira nos Estados Unidos dois modelos urbanos que viraram notícia até na rede CNN.
Trek modelo District, uma das pioneiras a usar o sistema Belt Drive |
As correias dentadas utilizadas nas bikes atuais são feitas de um composto de borracha reforçadas internamente com fibra de carbono e o sistema ganhou o nome de Carbon Belt Drive System ou simplesmente Belt Drive.
LIMITAÇÕES
Coroa específica para o sistema |
Mas, como tudo nesse mundo, sempre existem as desvantagens e a principal delas é que as correias não podem ser empregadas nos câmbios tradicionais e isso limita bastante sua aplicação. As correias dentadas possuem pouca flexibilidade lateral e têm que trabalhar sempre tensionadas, portanto, não podem ser descarriladas lateralmente como nos câmbios tradicionais.
Por esse motivo, só funcionam em bikes monomarchas ou nas bicicletas equipadas com câmbios embutidos no cubo traseiro, mas esse componente é bastante restrito de marcas e modelos.
Os câmbios mais comuns desse tipo são os modelos Shimano Nexus e Alfine, os alemães da marca Rohloff (pronuncia-se Rolóf) e, mais recentemente, a marca SRAM também entrou nessa briga. Mas o principal inconveniente desses câmbios é a pequena quantidade de marchas, que se limita no máximo a oito nas linhas Alfine e Nexus, nove no I-Motion da SRAM e a 14 velocidades no modelo top da Rohloff.
Por conta dessas limitações, a transmissão por correia é voltada principalmente para as bikes de lazer e passeio e é perfeita para as beach bikes e comfort bikes. O sistema também é apreciado por cicloturistas de longo percurso, que vêem na confiabilidade, na baixa manutenção e na durabilidade os grandes trunfos da correia.
Entretanto, o mundo das competições de alta performance ainda é distante das bikes com Belt Drive, embora uma mountain bike equipada com correia dentada já chegou ao terceiro lugar do pódio no mundial 24 Horas de Adrenalina.
RECORDE MUNDIAL
As bikes com correias dentadas ganharam maior impulso quando a gigante norte-americana Gates, um dos maiores fabricantes de correias e mangueiras automotivas do mundo, entrou de sola nesse mercado com vários produtos, que inclui, além das correias, as polias (sim, em vez de coroa e pinhão, usa-se o termo polias) e o ferramental necessário para a instalação e manutenção.
Além da já citada Trek, marcas consagradas como Specialized e Cannondale, as dobráveis de design futurístico Strida, e muitas outras marcas oferecem modelos Belt Drive. A Ellsworth inclusive tem modelos com aro 29 e as correias já foram vistas até em bikes conceito feitas de bambu.
A bike do britânico James Bowthorpe |
Em 2009, o britânico James Bowthorpe usou uma Santos Travelmaster equipada com o câmbio Rohloff para bater o recorde da volta do mundo em bicicleta. Bowthorpe percorreu 30 mil quilômetros e desbancou o recorde anterior em três semanas.
VANTAGENS
A principal característica das correias é a durabilidade, que é no mínimo o dobro das correntes metálicas tradicionais. Outra vantagem é que a correia não enferruja, não necessita de lubrificação, não faz barulho, pode ser lavada facilmente com água e sabão e funciona muito bem em qualquer condição climática, já que o câmbio embutido é imune aos efeitos da sujeira e o sistema funciona perfeitamente até mesmo sob lama e neve, já que os dentes nas polias possuem aberturas que deixam a sujeira sair.
Mesmo na lama a correia trabalha com perfeição |
DESVANTAGENS
Por enquanto, a principal desvantagem do Belt Drive é ser ainda uma novidade no mercado internacional – e mais ainda no Brasil. E, como em tudo o que é novo, peças de reposição e mão de obra qualificada continuarão a ser um empecilho por muito tempo.
Mas, para quem apostar no sistema e deseja realmente uma bike com o Belt Drive, o ideal é adquirir uma bicicleta que já tenha o quadro adaptado a receber a correia dentada, embora exista no mercado kits de adaptação para as bikes normais.
O Belt Drive pode ser adaptado à maioria das bikes tradicionais |
Existem no mercado coroas que serve em pedivelas com quatro ou cinco parafusos e a polia traseira serve nos sistemas Shimano normais de até nove velocidades e cada vez mais fabricantes estão produzindo componentes compatíveis com o novo sistema.
CUIDADOS |
A correia não pode ser dobrada e nem torcida; |
Não é aconselhado o uso de blocagem rápida; |
Não é aconselhado em bikes fixas, de velódromo, e em bicicletas com freio do tipo contrapedal. |
Outra característica dessas bikes é que o ajuste da tensão e o alinhamento das polias deve ser muito bem feito para que funcione perfeitamente e evite o desgaste prematuro na correia. A verificação da tensão é feita pressionando-se o centro da correia, que deve ceder no máximo meia polegada.
Mas será que as bikes com correias vão mesmo pegar o lugar das correntes tradicionais que já provaram que dão conta do recado há tantos anos e um dia veremos as correias equiparem as bikes populares? Por enquanto essa realidade é distante, já que numa mountain bike zero quilômetro o Belt Drive eleva o preço em pelo menos 200 dólares.
Modelo de bambu equipado com sistema Belt Drive |
“Será que veremos um montão de gente mudar da corrente para o sistema de correia dentada? Eu acho que em algumas áreas urbanas sim, mas definitivamente não é esse o caixão que vai enterrar a corrente”, define Eric Bjorling, diretor de marcas da Trek.
TAMANHO DAS CORREIAS | |
Nº de dentes | Comprimento |
113 | 1243 mm |
115 | 1265 mm |
118 | 1298 mm |
122 | 1342 mm |
125 | 1375 mm |
250 | 2.000mm* |
- | * para tandem |
O peso total do conjunto vai variar em função do diâmetro das polias – que variam de 20 a 60 dentes – e do comprimento da correia, que vai de 113 a 250 dentes. Para converter uma relação tradicional, com uma coroa de 32 dentes e uma catraca de 19 dentes, para sistema Carbon Drive o peso ficaria assim:
- Polia dianteira com 46 dentes – 84 gramas
- Polia traseira com 28 dentes – 74 gramas
- Correia com 122 dentes – 82 gramas
TOTAL – 240 gramas
Texto reproduzido com autorização da revista Bike Action
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