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sexta-feira, 7 de março de 2014

Bicicletas: Asas para grandes voos

É emocionante a quantidade de histórias e experiências de superação sobre a bicicleta envolvendo pessoas de diferentes regiões, faixas etárias e condição social.

Foto: Ivo Maciel da Costa / Arquivo Pessoal
 Para algumas pessoas como Ivo Maciel da Costa, carioca que mora no bairro da Penha, nem mesmo as limitações físicas são impedimento para se entregar ao pedal. Pelo contrário, a bicicleta é um instrumento libertador, no qual a deficiência dá lugar ao sentimento de conquista, poder e igualdade. É a garantia do direito de se locomover dignamente, de conhecer e ser parte ativa da cidade e da comunidade. A bicicleta é o elo que permite pertencer a um grupo, socializar. Acompanhe o relato de Ivo.

Nasci em 25 de julho de 1967 com uma deficiência que afetou todo o meu lado direito. Minha mão é disforme e faltam partes dos membros superiores e inferiores. Minha perna direita tinha 15 cm a menos do que a esquerda devido à falta do osso perônio. Minha mãe conta que, quando nasci, os médicos disseram que eu nem chegaria a andar.


Tive que fazer várias cirurgias, mas aos dois anos de idade consegui dar os primeiros passos, arrastando o gesso que cobria as minhas pernas. Eu amarrava um pedaço de pano às costas e dizia que queria voar. Ainda tenho quatro centímetros de diferença no comprimento de um membro para outro.

Mesmo com as evidentes dificuldades resultantes da deficiência, como qualquer criança eu me encantei com a bicicleta. Ganhei minha primeira bike aos quatro anos, do meu avô. Ele a achou no lixo e reformou para mim. Foi uma grande alegria.

Sempre adorei a bicicleta, pois nela me sentia normal e livre para ir e vir. Também sempre tive o espírito esportista e competitivo.

Há cerca de 20 anos, também descobri ter esquizofrenia, mas continuei pedalando. Hoje, aos 47 anos, sou federado pela FECIERJ e já possuo vários pódios. Pedalo três horas por dia, percorrendo cerca de 120 km. Aos finais de semana costumo pedalar cerca de 200 km. Consigo assim manter uma ótima condição física e preparo para pedais de longa distância. A única adaptação que tive que fazer na minha speed foi colocar o freio traseiro no lado esquerdo do guidão.

Apesar de me federar já meio “velhinho”, sinto que tenho um espírito jovem e forte. Meu desejo é conseguir participar das Paralimpíadas de 2016.

O ciclismo me ajuda, é minha terapia, e quando eu ando de bicicleta não me sinto deficiente.


O menino com capa nas costas que queria voar agora usa a bicicleta para planar pelos caminhos. Bicicletas são asas que transpõem grandes obstáculos. São asas para grandes voos, quase tão naturais quanto a dos pássaros, tão disponíveis quanto estivermos dispostos a aceitá-las.

Fonte: Revista Bicicleta por Ivo Maciel da Costa

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