Foto: Sérgio Alexandre Szmidziuk |
Penso que a adolescência seja um período marcado por certa rebeldia, pela crítica ferina a professores, pais e até colegas. Em alguns casos, extremamente saudável, em outros, nem tanto. É a fase das insatisfações. Sendo assim, realizar alguns programas em comum, entre pais e filhos, nesses tempos, exige predisposição de ambos. Em nosso caso, optamos pelo ciclismo.
Cuido de minha filha, Jéssica, sozinho desde que ela tinha um ano de idade, e não preciso dizer que nos dias de hoje seja bastante difícil ser pai e mãe ao mesmo tempo. Tem sido “uma barra”, mas confio que ela esteja bem encaminhada, pois hoje, aos 15 anos, sinto que minha filha é uma pessoa do bem.
Acho que é função dos pais ensinar bons princípios aos filhos, isto não é função da escola. Coisas como ser honesto, ter caráter, entre outras. No caso específico da bicicleta, tento passar para minha filha as responsabilidades e os benefícios do ciclismo, seja para o lazer, saúde, transporte ou simplesmente poder sentir o vento em nossos rostos e presenciar alguns pores-do- sol, essas coisas que fazem bem para o corpo e a alma.
Dizia a ela, por várias vezes, que se trata de um desporto, de uma atividade saudável, relaxante e que ajuda a queimar muitas calorias. As pessoas que andam de bicicleta fazem menos visitas médicas, são mais resistentes a patologias do foro emocional, como as depressões e o estresse. Disse, também, que pedalar é um dos melhores antidepressivos para este estado emocional, além de reduzir o colesterol e em 50% o risco de infarto.
Peço sempre que não esqueça do filtro solar, do capacete, das luvas e lanternas refletoras, todos imprescindíveis.
Aos 35 anos tive um problema cardíaco que, se não passasse por uma intervenção para trocar uma válvula, talvez tivesse apenas mais seis meses de vida. O cardiologista me informou que eu teria grande chance de sucesso na cirurgia pois eu era um desportista e não fumante, e acabei sendo um dos primeiros pacientes a fazer este transplante de válvula humana no país.
Hoje, aos 52 anos, pedalo diariamente na companhia de minha melhor parceira, minha filha, e busco repassar a ela os benefícios deste esporte. Salvou minha vida, depois da cirurgia do coração, e minha paixão por bicicleta me manteve vivo.
Adotei, há muitos anos, a bicicleta como meu meio de transporte e lazer. Suas rodas já são quase as minhas pernas, e desde que minha filha nasceu tem sido minha companheira nas jornadas de pedal.
Primeiro, ela ia na cadeirinha, com as perninhas balançando. Mais adiante, deu as primeiras pedaladas na “tico-tico”. Incentivei, com apreensão, quando fez as primeiras incursões sem as rodinhas laterais.
E, à medida que Jéssica crescia, evoluía também seu veículo. Hoje, ambos conversamos olhando nos olhos um do outro, sem que ninguém precise olhar para cima ou para baixo. Os aros da bike também estão igualados.
Mesmo que às vezes relute em aceitar que ela cresceu e que em certos assuntos já sabe mais que eu, continuo agindo como antes, na esperança de que a minha condição de protetor dure para sempre.
E ela, sábia que é, se faz de desprotegida para estar ao meu lado. Dei-me conta, então, que na verdade, é ela que está agora me protegendo.
Fonte: Revista Bicicleta por Sérgio Alexandre Szmidziuk
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