“O ciclista que perdeu o braço estava na contramão”, disse a polícia e segundo o Código de Trânsito Brasileiro, transitar na contramão mesmo de bicicleta configura infração, sobre o caso do ciclista atropelado.
Ecochatos e biodesagradáveis como eu, volta e meia dizem por aí “ande de bicicleta”, “use transporte público”, “se o seus destino é perto, vá a pé e aproveite a caminhada”.
Pois bem experimente fazer isso.
Se você acha que o melhor meio de transporte é uma circular, uma bicicleta ou caminhar, sinto lhe dizer, mas o seu lugar não é aqui.
O Brasil é o país dos carros, feito para os carros. Em 16 de junho de 1956 foi criado pelo presidente Juscelino Kubistchek, o Grupo Executivo da Indústria Automobilística que marcou o início da indústria de automóveis no Brasil e a consolidação das estradas, ruas e rodovias como principal meio de ir e vir.
Motivo de orgulho para o brasileiro, a produção de carros foi um símbolo de progresso e de riqueza nacional. Evoluiu ao ponto de fazer parte do ego e se tornar forma de ostentação.
Temos as nossas cidades sendo adaptadas, projetadas, urbanizadas, reurbanizadas, revitalizadas e pensadas do ponto de vista do carro e do motorista. Brasília mesmo, marco do urbanismo e da arquitetura, foi pensada inteirinha em função das quatro rodas.
A cada dia que passa, fica mais fácil ter um carro e como resultado, quase 3,7 milhões de carros são despejados nas estradas e ruas de nossas cidades anualmente.
Carros são seguros, confortáveis e práticos. Seja no calor, no frio ou na chuva, estar dentro de um carro, ainda é um bom negócio. Ficou preso no congestionamento? Nem isso é mais problema. É só ligar o ar condicionado e ouvir uma música.
Ter um carro alimenta e expõe o ego, significando ter poder, status e capacidade de consumo, coisas que nada tem a ver com ir e vir, o que deveria ser a função única e lógica de um veículo.
Assim, é muita hipocrisia, pedir a alguém que troque seu carro por um ônibus lotado e quente. Se tivéssemos um sistema de transporte público menos vergonhoso, mais ágil e seguro, aí sim teríamos o direito de cobrar uma mudança de hábito.
Como podemos pedir que alguém vá ao seu destino caminhando? Não temos calçadas! São irregulares, quebradas, obstruídas, com carros estacionados e mercadorias espalhadas, impedindo o fluxo das pessoas, principalmente, de idosos, cadeirantes e carrinhos de bebês. Os pedestres, em especial nas pequenas cidades, são forçados a dividir as ruas com os carros. Quem você acha que tem vantagem?
Finalmente as magrelas. O último que se arriscou a andar de bicicleta e dividir a rua com um carro perdeu um braço. Se estivesse também dentro de um carro, sua única preocupação seria arrumar o para-choque.
Ainda, pelo que eu andei lendo por aí, o pobre ciclista estava até usando a ciclofaixa. Com a força do impacto, o braço direito do ciclista foi decepado, caiu dentro do carro e depois foi jogado num córrego chamado Ipiranga.
Seja em São Jorge do Patrocínio, Umuarama ou Maringá a regra é clara. Vá de carro ou você está na contramão!
Isso seria um problema se você não fosse o único. A cada dia que passa, mais e mais pessoas estão escolhendo andar na contramão. Vão descobrindo que não são as únicas a pensar diferente. As bicicletas aumentam nas cidades e muitos tem optado por andar à pé nos trechos relativamente curtos.
As cidades brasileiras precisam mudar, e rápido, para oferecer conforto e segurança a uma minoria crescente que optou por ir na contramão do retrocesso e do ego, optando pedalar e caminhar a passos largos rumo à um futuro mais inteligente e sustentável.
Ou será preciso conviver com a realidade de braços fortes desse povo heroico e trabalhador, ceifados e lançados às margens plácidas de um córrego ironicamente chamado “Ipiranga”?
Erick Caldas Xavier
É Biólogo pela UEL, especialista em Gerenciamento e Auditoria Ambiental pela UTFPR, mestrando em Ecologia pela UEM, Secretário Executivo do CORIPA e Vice-presidente do CRBio 07.
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segunda-feira, 25 de março de 2013
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