Foto: Pedro Cury |
Definições Confusas: Trail, All Mountain e Enduro
A primeira coisa que confunde quem busca uma bike desse tipo é entender os termos usados nas suas variações. E não é a toa: além de ser difícil definir os limites entre um tipo de bike e outro, diferentes países e fabricantes usam termos diferentes para suas bikes. A primeira coisa que deve ficar claro é que independente dessas três definições, essa categoria está entre dois extremos: o cross-country (XC) e o downhill (DH) / freeride.
Bikes de XC, na sua maioria sem suspensão traseira, são feitas para ganhar competições. O baixo peso é uma das principais prioridades, sendo mais importante que o conforto e até mesmo a resistência das bikes. Por isso existem peças indicadas apenas para atletas de um determinado limite de peso. A configuração de algumas bikes vai exigir também um maior preparo físico e habilidade, com rotores de disco de 140 mm que freiam menos, suspensões de apenas 80 mm a 100 mm, guidões retos e estreitos e os novos pedivelas com apenas uma ou duas coroas. Dessa maneira, tornam-se ótimas bikes para situações de competição, especialmente subidas, mas pecam no conforto e principalmente controle nas descidas.
No outro extremo estão as bikes de DH e freeride. As primeiras também são feitas exclusivamente para competição, com relação de marchas para descidas, suspensões de mais de 180 mm de curso, geometria que favorece apenas descidas inclinadas e curvas rápidas, rotores de disco de 200 mm e pneus largos. As de freeride são parecidas, porém não são projetadas para competição, tendo uma geometria mais genérica e configurações menos específicas. O problema dessas bikes é que podem chegar a pesar três vezes mais que uma bike de cross-country leve e, ao encontrarem subidas, dão um destino certo ao piloto: desmontar e empurrar.
O all mountain tem o objetivo de oferecer o melhor dos dois mundos: subidas sem sofrimento e descidas com diversão! É aí que entra um mundo de possibilidades de configuração das bikes, levando às definições confusas. Em geral, nos EUA e Canadá, as bicicletas chamadas de trail são as que possuem menos curso de suspensão (até 140 mm), com uma configuração mais leve, favorecendo mais as subidas. O termo all mountain é usado para as bikes mais agressivas, acima de 140 mm de curso, mais robustas e que favorecem as descidas. Já na Europa, as bikes de all mountain são de uso mais leve, enquanto o termo enduro é usado para as bikes mais agressivas.
Evolução
O conceito de all mountain é antigo, mas nunca teve um apelo tão grande quanto hoje. A tecnologia sem dúvida ajudou muito. Antigamente, muita coisa era adaptada das bikes de XC e DH, formando as bikes “Frankenstein”, que não eram tão leves e duráveis quanto deveriam, ou não tinham geometria correta. Hoje em dia, existe uma versão all mountain para praticamente todas as peças de uma bicicleta. Isso faz com que o produto final seja uma bicicleta mais leve, mais forte e mais específica para o uso, uma bike totalmente diferente.
Características e Configurações
Mais importantes que qualquer definição são as características técnicas das bikes. Elas é que vão definir seu comportamento e você deve saber qual é a mais adequada para seu estilo de pilotagem. Veja as características mais importantes:
Suspensão
Essas bikes possuem 120 mm a 180 mm no curso das suspensões. Quanto mais técnico o terreno e mais agressivo o estilo de pilotagem, maior o curso recomendado. Muitos modelos oferecem suspensões com trava, com mudança externa de curso e configurações para deixar o funcionamento mais rígido nas subidas ou trechos planos. Além disso, a opção de eixo de 15 mm pode deixar a suspensão dianteira mais rígida, sem aumentar tanto o peso e com mais variações de rodas leves, em relação a uma opção de 20 mm usada no downhill.
Geometria
Fugindo também dos extremos, esse tipo de bike vai oferecer um meio termo para um bom desempenho tanto na subida quanto na descida e também no comportamento em maior e menor velocidade. Quem já tem conhecimento de geometria vai conseguir escolher alguns modelos que favorecem determinadas características. As opções atuais estão cada vez mais vastas e alguns quadros até oferecem possibilidades de mudanças nos ângulos. Um exemplo disso são as novas caixas de direção que permitem mudar o ângulo da suspensão em até 1.5 graus.
Quadros
Está cada vez mais frequente o uso de tubos de direção cônicos ou de diâmetro 1.5". O benefício está na rigidez e na maior possibilidade de usar as caixas que permitem mudança no ângulo. Também são projetados para usar rotores de disco até 200 mm, algo que comprometeria um quadro de XC. Para completar, esses quadros já estão vindo preparados para acomodar os conduítes dos novos canotes de altura ajustável, inclusive para 2012 algumas marcas já estão oferecendo uma maneira de passar esses conduítes por dentro do quadro.
Pinhão de 36 dentes
Novos cassetes com maior pinhão de 36 dentes surgiram inicialmente para facilitar o uso das bikes de rodas 29", que são maiores e precisam de maior força para aceleração inicial. Porém, acabaram sendo muito bem-vindos no all mountain, uma vez que as bicicletas são mais pesadas e os pilotos dessas bikes não são superatletas. Para os mais fortes, o pinhão de 36 também facilita a migração para pedivelas de duas ou apenas uma coroa.
Canotes ajustáveis
A possibilidade de subir e baixar o banco sem precisar desmontar da bike é uma novidade que já está se tornando item de série. Para saber mais, veja o artigo da página 36.
Guia de corrente e proteção de coroa
As bikes de maior curso costumam usar duas coroas e são usadas de forma mais agressiva. Um guia faz com que a corrente não acabe “pulando” para dentro ou fora do quadro nas descidas mais técnicas e pode ser um item importante dependendo do curso e tecnologia de suspensão. Já a proteção da coroa é colocada onde estaria a coroa maior do pedivela e serve para proteger as coroas de impactos de pedras ou raízes. Muitas vezes esses dois itens são vendidos juntos.
A Bike Certa para Você
Como quase tudo no mundo das bikes, existe um mar de possibilidades de configurações. Porém, no all mountain é ainda maior! Mas uma coisa é certa: se você está começando no mountain biking, uma bicicleta desse tipo ou com essas características é a melhor opção. Se você já é experiente, procure saber mais detalhes das tecnologias específicas para descobrir o que fará mais diferença para seu estilo de pilotagem e terreno que você costuma andar. Uma bike desse tipo atende uma gama ampla de situações, mas se você pedala em estradas de terra lisa com a mesma frequência que pedala em trilhas com pedras grandes e saltos, algumas características precisarão ser comprometidas.
No Brasil
O brasileiro ainda está demorando a perceber o benefício das bikes de all mountain. Uma grande parcela de praticantes de MTB buscam os extremos do XC ou DH, mas no final pedalam o conceito all mountain. Quem não costuma participar de competições buscando melhorar cada vez mais os resultados, não vai se beneficiar em ter uma bike de XC ou DH. As fotos estão aí para provar: a bike que está voando nessa matéria subiu e desceu mais de 30 km de trilhas muito técnicas momentos antes... E sem precisar empurrar!
No Exterior
Fora do Brasil essas bikes já são as mais populares entre os praticantes de MTB. Temos sempre que lembrar de que, especialmente na Europa, temos montanhas muito maiores, terreno mais técnico e uma cultura de montanha de muitas décadas. Na região dos Alpes é cada vez mais comum ver ciclistas carregando uma mochila grande e montado em uma dessas bikes. Em travessias longas, onde se atrasar significa ficar no escuro em um montanha alta e fria, poder subir e descer mais rapidamente pode ser a diferença entre ir com uma dessas bikes mais divertidas ou precisar ir com bikes de cicloturismo e alforjes. Terminar um percurso técnico e longo em apenas um dia de forma divertida faz muita diferença!
Para completar, já começaram a ser organizadas até competições de all mountain, com múltiplas etapas e misturando bem o terreno, mas sempre com um foco no lado técnico.
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