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terça-feira, 2 de junho de 2015

Eu sou ciclista - Uma carta aos motoristas

Zarela Díaz mora em Recife e utiliza a bicicleta como meio de transporte na capital pernambucana. Ela escreveu esta carta como um desabafo por uma situação de desrespeito que sofreu no trânsito.


Motorista, eu sou ciclista. 
Quando passo ao seu lado no trânsito conturbado e nervoso, frágil e vulnerável sobre duas rodas, lembre-se de que eu represento um carro a menos rodando naquela via, sou uma pessoa a menos ocupando nossos ônibus superlotados, sou uma criatura a menos a poluir o planeta onde seu filho vai crescer.
Tenha paciência comigo, não posso ser tão veloz como o seu veículo, meu motor são minhas pernas. 
Você alguma vez já experimentou ir para o trabalho de bicicleta num dia útil? Não há vias exclusivas para mim – pelo menos, não nos dias úteis -, e, acredite, a grande maioria de vocês, condutores, não nos respeita, passa raspando, tira fino, faz gracinha. Eu tento me proteger - quando percebo que alguém vem numa velocidade muito alta, simplesmente paro um pouco ao lado do acostamento e espero que esse alguém passe para continuar meu caminho em segurança. 
Preste atenção, motorista, eu não sou invisível. Abra os olhos e seu coração, me enxergue. Eu sou de carne e osso, tenho família como você, tenho gente que me espera em casa. Optei pela bicicleta porque gosto de liberdade e de vida saudável, além de que cansei de ficar horas presa dentro de um carro, perdendo tempo, perdendo vida.
Todos os dias, quando saio de casa, sinto a apreensão do meu marido, que pede para eu ter cuidado. Ele sabe que não adianta insistir – sou como um passarinho que não aceita limites.
Posso pedir uma coisa? Sinalize toda vez que você for entrar numa rua qualquer. Eu também dirijo automóvel e sei que não custa nada ligar a seta. É um gesto simples que faz toda a diferença para o ciclista e para o pedestre na hora de atravessar uma rua - ocasionalmente você também é pedestre, não? 
Há alguns dias, uma camionete preta ia me atropelando na Rua da Lama. O homem ao volante cruzou na minha frente para entrar à esquerda, como se eu pudesse me desintegrar por alguns segundos para que ele, senhor absoluto da rua, pudesse passar. Atrás dele, gritei um xingamento, indignada. Sabe o que ele tinha adesivado em letras grandes no seu vidro traseiro? “Tem coisas que só Jesus faz”. 
Zarela Díaz
Fonte:  Revista Bicicleta por Zarela Díaz

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