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quarta-feira, 7 de março de 2012

Após mortes, milhares de ciclistas protestam e cobram melhorias

Centenas de ciclistas e pedestres se reuniram na avenida Paulista, no centro de São Paulo, para cobrar mais investimentos em ciclovias
Foto: Ricardo Matsukawa/Terra
 Um protesto, promovido em conjunto entre São Paulo e outras cidades brasileiras, contou com a presença de milhares de ciclistas nesta terça-feira, que resolveram se reunir simultaneamente após a morte da bióloga Juliana Dias, 33 anos, atropelada por um ônibus na última sexta-feira, na avenida Paulista. Além dela, duas pessoas perderam a vida em acidentes semelhantes em outros Estados. Os ciclistas cobram investimentos em ações que facilitem a vida de quem usa a bicicleta como meio de transporte.

Mas se na sexta-feira o clima era de luto em São Paulo, hoje a bicicletada nacional era voltada às reivindicações. Para os ciclistas, embora a prefeitura tenha "olhado" mais para a questão, os investimentos ainda são muito voltados para o lazer. "É bom que haja ciclofaixas nos fins de semana, mas e os outros cinco dias da semana? Precisamos de ciclovias, vias sinalizadas e, principalmente, treinar os motoristas a respeitarem os menores", diz Felipe Aragonez, diretor do Instituto CicloBR.

O ciclista Jemison Su, 36 anos, concorda. Ele, que usa diariamente a "magrela" como transporte, diz não se sentir seguro nas ruas. "Deveria haver uma faixa exclusiva para os ciclistas nas ruas principais. Nós ficamos muito expostos, é um risco diário. Falta investimento", afirmou. "Meus filhos estão na Europa e lá é comum usar bicicleta todo dia. Aqui é essa preocupação. Chorei muito quando soube da morte da Juliana", contou Selma Bombachini, que veio representar os filhos cicloativistas, trazendo flores para distribuir para os motoristas.

Na semana passada, os ciclistas instalaram uma "ghost bike" (bicicleta fantasma) em homenagem a Juliana, na esquina com a rua Pamplona. Hoje, eles pararam em frente ao local e homenagearam a vítima com um minuto de palmas, enquanto o trânsito na Paulista ficou trancado por cinco minutos em ambos os sentidos. Além de gritar slogans como "mais amor, menos motor", os ciclistas carregaram cartazes em suas bikes com dizeres como "respeite a vida" e "cuidado comigo".

Discussão com motoristas
A bicicletada incomodou alguns motoristas na avenida Paulista, pois em vários cruzamentos os ciclistas ocuparam os dois sentidos, paralisando o trânsito. Eles deitavam na rua, em protesto contra a violência, e a ação causou enorme fila.

Incomodado, um casal, que seguia no sentido Consolação, chegou a descer do carro e discutir com os manifestantes, que foram dispersados pelos próprios colegas. Em outro momento, um motociclista, que também trafegava no sentido Consolação, foi impedido de passar, bateu boca com os ciclistas e teve de ser "escoltado" por dois policiais militares para prosseguir.

Porto Alegre tem forte adesão
Na capital gaúcha, o protesto contou com aproximadamente 400 ciclistas, que saíram do Largo Zumbi dos Palmares e percorreram as principais ruas do bairro Cidade Baixa, Bom Fim e Centro. Há um ano, no mesmo local, um grupo foi atropelado pelo funcionário do Banco Central Ricardo Neis enquanto participava de uma bicicletada.

Dos atingidos, 17 ficaram feridos. Desde então, o Massa Crítica ganhou uma forte adesão em Porto Alegre, reunindo mensalmente centenas de ciclistas, que cobram mais investimentos principalmente em ciclovias, já que a cidade tem apenas 8 km espalhados pelas ruas. Na noite de hoje, o protesto, que durou mais de uma hora, teve gritos bem humorados, cartazes e a presença de diversas crianças acompanhadas dos pais.

Outros Estados
No Rio de Janeiro, um grupo de aproximadamente 100 pessoas se reuniu na Cinelândia e percorreu as principais vias do centro da capital. O trajeto passou por Santa Luzia, avenida Presidente Antônio Carlos, rua da Assembleia, rua da Carioca, Praça Tiradentes, rua Visconde de Rio Branco, Praça da República, Central do Brasil e avenida Mem de Sá, na Lapa. Na Central do Brasil, os manifestantes se deitaram no chão, se fingindo de mortos. A todo momento, usaram gritos como "bicletada é um carro a menos", "bicicleta todo dia, eu não vou pra academia" e "quem vai de bike chega primeiro".

A edição de Salvador da Bicicletada Nacional contou com aproximadamente 100 pessoas da Massa Crítica. Os ciclistas se encontraram no bairro do Rio Vermelho e depois seguiram para o Jardim de Alah pela orla marítima. Há 10 dias, a capital baiana também teve um acidente com morte de um ciclista. Segundo o engenheiro Clement Vialle, que integra o movimento de Salvador, o objetivo do grupo é chamar a atenção para as bicicletas como meio de transporte e não apenas diversão, além de cobrar políticas públicas para os ciclistas.

Em Santa Catarina, a adesão foi de aproximadamente 100 pessoas em Florianópolis. O grupo se reuniu diante de um shopping center e seguiu para ao campus da Universidade Federal de Santa Catarina (USC), percorrendo em seguida algumas ruas da região central da cidade.

Em Curitiba (PR), o movimento repetiu o roteiro do tradicional "bikenigth", que ocorre semanalmente nas noites da cidade com apoio da prefeitura e da Polícia Militar, passando por alguns pontos turísticos. Na concentração, no pátio da reitoria da Universidade Federal do Estado, os mais de 300 manifestantes acenderam velas em homenagem às vítimas e partiram, escoltados por guardas de trânsito, também de bicicleta, cantando músicas e gritos de guerra.

Nas ruas de Belo Horizonte (MG), o Massa Crítica criticou a falta de projetos de ciclovias na capital mineira, partindo da Praça da Estação, no centro. De acordo a BHTrans, empresa que gerencia o trânsito na capital, 22km de ciclovias existem na cidade. Em 2011, um investimento de R$1,1 milhão foi anunciado pela empresa, que tem projetos de construção de mais 33 km de ciclovias em andamento.

Marina Novaes
Direto de São Paulo
Site Terra

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