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quarta-feira, 7 de março de 2012

Oferecendo a outra face


Não ando há anos de bicicleta na cidade de São Paulo. Não passei ou conheço todas as agruras de que quem luta pela bike já passou. Não escrevo aqui como defensor desse ou daquele movimento. Fiz esse blog para mostrar e comentar as coisas bacanas que descobri depois que comecei a andar de bicicleta para trabalhar.

Essa semana mais uma ciclista foi morta. Eu não a conhecia. Assim como eu não conhecia o Sr. Lorenzetti nem a Márcia Prado. Aliás, eu não conheço ninguém que morreu andando de bike. Mas sinto profundamente por eles. Sinto por vidas que se interromperam brutalmente. Mas sinto principalmente de uma maneira egoísta: podia ser eu. As pessoas próximas de mim ficam arrepiadas com essa declaração e sei que é verdade.

Pedalo quase todos os dias em paz, sem medo, curtindo o caminho e tomando todos os cuidados que posso. Sou gentil, muito mais gentil do que jamais fui como já disse aqui antes. Vejo sorrisos, acenos. Converso com mais gente. E lido com as finas, as buzinadas, o desrespeito. No começo lidava mal com isso. Hoje tento ignorar. Mas como ignorar num momento como esse?

Nunca fui de bandeiras e causas. E é egoísta sim o motivo de eu falar sobre o crime cometido contra a vida de Julie. É porque eu não quero que aconteça comigo. Não quero que aconteça com os excelentes amigos que conheci pedalando. Não quero que aconteça com ninguém.

Vivemos numa sociedade que muitas vezes é evoluída, gentil e consciente. Mas que pode ser bruta, violenta e imbecil. Os críticos da bicicleta, os defensores do carro, os que acham que não existe espaço para a bicicleta estão entre essa sociedade torta. São cidadãos tão cruéis como os que zombam da pobreza, da fome, dos crimes ambientais, da violência. São os que diminuem os erros, que olham para o outro lado, que apontam o dedo sem moral ou razão.

Eu tentaria ignorá-los. Mas eles querem e zombam da minha vida. Zombam da família da menina que foi covardemente morta. Zombam daqueles que decidiram poluir menos, não causar trânsito, não gastar seu dinheiro com gasolina ou IPVA, que decidiram ser diferentes deles.

Entendo os ciclistas. Entendo seu luto e sua revolta. Poderiam ser vocês. E entendo melhor ainda porque depois que passei a usar a bicicleta virei referência. O síndico da CicloFaixa, o pastor das bicicletas, o louco que se arrisca pelas ruas. E todos, próximos a mim, foram se convencendo de que não sou nem tão louco e nem tão diferente deles. Viram que queremos as mesmas coisas: uma cidade com menos trânsito, com mais lazer para todos, queremos ser mais saudáveis, ter mais amigos. Queremos ser quem somos e ser respeitados por isso.

Sou motorista de carro, de moto, ando de bicicleta, de ônibus, de metro e a pé. Então de que lado eu fico nessa história? Eu poderia estar na bike da Julie, no carro ao seu lado, no ônibus que a derrubou ou no que passou por cima dela. Em qualquer dessas situações eu ficaria do lado do respeito, da vida e da tolerância. Tolerância e convivência com as diferenças que é o único caminho para termos um mundo mais humano e menos animal. Um mundo com pessoas que sabem respeitar as diferenças de cor, religião, classe social, origem e com o meio que eu uso para me locomover. Um mundo onde, com certeza, muito mais gente anda de bicicleta do que hoje.

http://cyclicity

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