Venda de bicicletas alcança 5 milhões de unidades no país. Indústria investe em tecnologia. Preços chegam a R$ 15 mil
Aprender a manter o equilíbrio sobre duas rodas é uma das grandes conquistas da infância e que dura toda a vida. Uma vez aprendido, ninguém esquece como andar de bicicleta, o que significa que a decisão de investir em uma bike pode acontecer a qualquer momento. Transporte silencioso, que desvia do trânsito pesado, as bicicletas também estão associadas a boas práticas para a saúde, e à economia, em um conceito moderno em que pretende-se gastar menos dinheiro. As bikes estão nas vitrines, no cinema e nas ruas, mundialmente estão na moda. No Brasil, movimentam um mercado estimado em R$ 900 milhões ao ano, com vendas de aproximadamente 5 milhões de unidades.
Respondendo à demanda dos consumidores, a indústria está investindo em tecnologia, deixando as bicicletas mais leves, rápidas e confortáveis, com preços que podem ultrapassar R$ 15 mil. “O perfil do mercado está mudando. Agora, a maior demanda não é pelo produto simples, mas por unidades produzidas com materiais tecnologicamente avançados e design moderno”, diz José Eduardo Gonçalves, diretor-executivo da Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo). Segundo ele, este ano o volume do comércio de bicicletas no país deve ficar estável, mas o faturamento fecha em alta, exatamente pelo maior valor do produto.
Em Belo Horizonte, mesmo com o sobe e desce das ruas, as bikes têm se tornado opção deslocamento para percorrer pequenas distâncias, o que faz a indústria investir em equipamentos mais confortáveis com custo médio entre R$ 1 mil e R$ 1,5 mil, como os modelos dobráveis. Mas a maior escala do mercado é movida pelo lazer e esporte. Na Grande BH são pelo menos 15 grupos formados para pedalar nas ruas. Há também a turma das trilhas e até mesmo grupos de ciclistas que se dedicam a projetos sociais. Segundo a BHTrans, até o fim do ano a prefeitura e o Banco Mundial vão investir R$ 5,8 milhões para aumentar a ciclovia de 47,7 km para 100 quilômetros.
O ciclista e analista de sistemas Humberto Guerra, de 44 anos, aprendeu a andar de bicicleta aos seis. Há 10 anos redescobriu o hobby, que se tornou um esporte de competição: o mountain bike. Mas não é só isso: ele usa o meio de transporte para passear e viajar. De bicicleta, já conheceu do interior de Minas ao Sul da França. “É um lazer econômico. É possível comprar uma boa bicicleta com R$ 2 mil, evitando gastos com médicos, remédio e até com a academia. A saúde melhora com o investimento.” Ele defende que o sobe desce da capital tira a monotonia dos passeios e, ao contrário do que muitos pensam, é um estímulo. Para cada proposta, o cliclista usa uma bike. “Tenho cinco, para viagem, passeio e esporte.”
Consumidores como Humberto aquecem o varejo. A Global Bicicletas abriu sua primeira loja, no Centro de BH, em 1996. Hoje são seis unidades, comercializando mais de 10 mil bicicletas ao ano. Até o final de 2013, a rede projeta abrir dois pontos de vendas na capital. “Em todas as regiões, de Venda Nova à Savassi, a procura por bicicletas está aquecida”, aponta Renato Barcelos, gerente comercial da rede. Segundo ele, 60% das compras são para esporte e lazer e 40% para transporte e mobilidade urbana. Desde o fim do ano passado a rede investiu R$ 700 mil para comercializar uma marca importada, que traz artigos de luxo com custo de até R$ 15 mil.
Barreira federal
Das 19 bicicletas de Lucas Moreira, 15 são importadas. Os números nacionais são bem menores, não só na lista do ciclista. Essa é uma batalha do mercado. Enquanto a produção nacional vem se mantendo estável, o produto estrangeiro deu um salto. Em 2006, o Brasil importou 46 mil bicicletas, em 2011 foram 370 mil. Para frear o impulso do mercado, o governo reajustou o Imposto de Importação desses produtos, de 22% para 35%. Somando a tributação brasileira, que ocorre em cascata, a carga tributária para as bicicletas importadas chega a 70%, elevando o preço das “magrelas” no mercado.
Em 2012 foram 300 mil unidades importadas, sendo que 95% vieram da China e o restante de outros países asiáticos, como Taiwan, Camboja e Indonésia. Apesar da origem, muitos fabricantes são europeus e americanos que transferiram sua manufatura para a Ásia. Daniel Aliperti, diretor de produto no Brasil da fabricante americana Specialized, acredita que o momento é muito bom para o setor, já que as bicicletas estão incluídas no conceito de um planeta sustentável, mas ele critica a elevação da carga tributária e considera que o consumidor brasileiro perde com um mercado menos competitivo. “A medida incentiva também um lado muito ruim, que é a entrada ilegal de bicicletas no país, já que lá fora o preço passa a ser bem mais atrativo.”
Aposta na elétrica
Uma nova aposta do mercado de duas rodas é a bicicleta elétrica, que colabora com o ciclista em subidas, onde o motor entra em funcionamento. Essas bicicletas supersofisticadas chegam a custar 5 mil euros, mas no Brasil versões podem ser encontradas entre R$ 3 e R$ 5 mil. Elas já foram alvo de polêmica no Rio de Janeiro, onde há discussão se elas devem ser equiparadas a ciclomotores ou cicloelétricos e, por causa disso, ter um Certificado de Registro de Veículo (CRV), placa e licenciamento anual emitidos pelo Conselho Nacional de Trânsito (Contran). Essas bikes podem vir a ter uma regulamentação própria.
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