Foto: YanLev |
Depois que passei a pedalar, ouço diariamente de minhas amigas que sou uma louca, que sou muito destemida; algumas me endeusam, outras dizem que o mountain biking (esporte que se tornou a minha paixão) é para homens. Eu poderia colocar aqui uma lista enorme de comentários das mulheres que simplesmente se negam a pensar em praticar algum esporte, e nem sequer conseguem imaginar subir em uma bicicleta e pedalar por trilhas no meio do mato.
Mas há também o grupo de mulheres que querem pedalar, tem bicicleta para mountain biking, mas morrem de medo ao menor sinal de declive ou depressão de uma trilha. |
Comecei na prática do mountain biking há um ano e meio, quando nem sequer sabia trocar as marchas da bicicleta. Descer uma guia de calçada era um obstáculo intransponível. O que me fez mergulhar de cabeça no esporte era o meu profundo desejo de conseguir participar de uma competição internacional de mountain biking. Tinha apenas seis meses para aprender a andar de bicicleta, e me preparar fisicamente e emocionalmente para percorrer os 230 km da competição, em três dias entre a Patagônia Chilena e Argentina.
O meu desejo era imenso, mas o frio na barriga era constante. Comecei a perceber que o meu medo estava disputando com o meu desejo. Entendi que somente o meu medo era o que me impediria de alcançar meu objetivo. Tinha medo de cair, medo de me machucar, medo da velocidade, medo de não conseguir, medo, medo e mais medo.
A maior barreira não foi aprender a andar de bicicleta, não foi me preparar fisicamente: a maior barreira foi acabar com o medo. |
Quando percebi que o medo poderia sobrepor o meu desejo, resolvi canalizar toda a energia negativa do medo em positiva. Superar o medo passou a ser o meu primeiro desafio.
Treinava três vezes por semana em trilhas muito pesadas, tive muitas quedas, me machuquei demais, mas dentro de mim o desejo crescia a cada dia, e na hora que o medo aparecia eu o trazia para o nível da razão e do consciente. Criava mentalmente imagens lindas com relação à viagem, me via pedalando vigorosamente pelas trilhas, me via cruzando a linha de chegada, me via servindo de inspiração para outras mulheres e quando percebia o medo já tinha ido embora.
Contei para todo mundo o que eu estava fazendo. Contei para familiares, amigos, coloquei um blog na internet, mandava mala direta para um grupo de pessoas relatando a minha evolução. Esta foi mais uma forma que encontrei para não desistir e superar o medo, afinal a divulgação já era imensa e, por consequência, eu teria que ir até o final.
Percebi que muitas vezes eu tinha medo daquilo que eu imaginava que iria acontecer. Ao chegar em uma descida íngreme já parava com a certeza de que iria cair. Só comecei a fazer descidas maravilhosas a partir do momento em que projetei na minha mente que eu iria fazer descidas maravilhosas. Criei a minha técnica pessoal: transferia a energia negativa do medo para a positiva do meu desejo.
Todos somos capazes de grandes feitos, de grandes superações. Canalize esta energia que te impede de pedalar em uma energia que será o motor da sua bicicleta. Usei uma técnica que funcionou muito bem para mim. Existem várias outras. Tente encontrar a que mais se adapta ao seu estilo. Crie um objetivo pessoal. Crie a sua meta. Eles os ajudarão a superar o medo.
O importante é se lançar - não deixar de viver momentos únicos por medo. Fique atenta a estes medos, aproveitando-os da melhor maneira possível, pois eles podem lhe ajudar e aumentar suas chances de sucesso.
Fonte: Revista Bicicleta por Claudia Franco
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