Henrique Avancini e Sergio Mantecon no XCO da Brasil Ride Foto: Fabio Piva |
Confira o relato de Avancini sobre a etapa:
“A etapa é um cross-country olímpico na cidade de Rio de Contas sendo a única etapa onde a dupla pode andar separada, e o tempo da equipe é a média dos tempos da dupla. Acordei bem – considerando a dureza da etapa de ontem – e estava muito empenhado em fazer uma prova agressiva. Fiz uma volta de reconhecimento com o Sherman e o circuito estava em piores condições do que nos outros anos, ficando mais perigoso.
Nessa etapa, amadores e profissionais largam juntos e dividem o circuito. A intenção da organização é proporcionar aos amadores a proximidade na pista com os melhores pilotos da competição. Ano passado em uma reunião pós-prova com os atletas de elite e organização, questionamos isso e sugerimos uma bateria separada. O que posso dizer é que este é um ponto que deve ser mudado para o próximo ano. Com o maior número de atletas amadores e um pelotão de elite cada vez maior, a linha entre uma “experiência interessante” e um “grande risco” foi ultrapassada.
Eu não acho legal ter que forçar ultrapassagens em alguns atletas retardatários (mesmo que sejam poucos), de ver tombos e presenciar discussões. A ideia e conceito são legais, mas acho que a mudança, pela segurança e boa convivência, seria bem-vinda.
De volta a ação. O circuito é dividido em uma longa subidas, com alguns refrescos que começa em um paralelipípedo na cidade e depois continua na terra. Depois um longo single-track estreito, com pedras e com algumas subidas e descidas curtas. No fim deste trecho pegamos a subida da igrejinha, que é uma verdadeira parede. No topo despencamos num tipo de escadaria de pedras natural. Realmente difícil e perigoso, no fim um trecho de alta velocidade até entrarmos na parte urbana novamente.
Mais um dia em que o ritmo foi coisa de doido. No final da primeira subida do estradão, o espanhol Sérgio Mantecon lançou um forte ataque e eu segui na perseguição. Fechando a primeira volta, ele tinha uma vantagem de aproximadamente 15 segundos. Eu seguia sozinho e um grande grupo perseguidor, ditado pelo Tiago Ferreira e Periklis Ilias vinha um pouco mais atrás.
Abrindo a segunda volta, eu tinha duas opções. Segurar o ritmo e voltar para o pelotão (já que neste circuito faz muita diferença andar em pelotão) ou tentar tirar a diferença para o Mantecon.
Pra cima deles…
Fui tirando a diferença muito aos poucos, até encostar novamente no ponto mais alto do circuito. Descemos juntos e abrimos a terceira volta. Para o Mantecon o interessante seria vencer a etapa, já que perderam muito tempo ontem. Eu tinha que pensar também na geral, então começamos a revezar e se ninguém encostasse, a vitória da etapa seria dele. Esse tipo de política é normal em provas por etapa.
Porém, a dupla Tiago Ferreira e Periklis Ilias vinham na perseguição e nos alcançaram no final da subida longa, antes do single-track. Eu e Mantecon abrimos novamente na descida final, mas na quarta volta ele não quis mais revezar. Eu também tirei o pé e esperei os outros dois. Quando eles chegaram ninguém tomou uma atitude e a prova ficou morna. O outro pelotão também chegou e no meio da quarta volta estávamos em um pelotão de uns 10 caras. Eu desci na frente, mas o grupo foi reagrupado no final da volta, abrindo a última volta com a prova totalmente indefinida.
Hora da coisa pegar fogo! Na primeira subida O Periklis pegou a ponta em um ritmo forte com seu parceiro na roda. O Tiago foi deixando que ele abrisse aos poucos. 1,2,3,10 metros…Fiquei atento pois essa é um tática simples mas eficiente e logo no final dessa subida de paralelepípedos, nós entraríamos num duro single-track subindo.
Ataquei no momento certo e o Periklis reagiu ao mesmo tempo. Ele puxou no single e quando saímos o Mantecon vinha a uns 10 segundos com o Tiago na roda. Revezei com o Periklis e mantivemos a distância. No final da subida em estrada, antes da trilha longa, o Tiago atacou o Mantecou, nos alcançou e atacou novamente. Entramos na trilha com o Tiago liderando, o Periklis na roda e eu em terceiro. Nessa altura o Mantecon tinha perdido um pouco o contato. Essa trilha é estreita, sendo um sobe e desce com pedras.
Alcançamos um retardatário que não quis ceder passagem. Perdemos tempo e o Periklis acabou tomando um forte tombo na minha frente. Pulei por cima da bike dele e segui com o Tiago. Com a dificuldade de ultrapassar, o espanhol acabou reagrupando. O Tiago briga pela geral, então não “arriscaria a vida” pela etapa. Sendo assim ataquei e ele não reagiu. Subi a última subida do dia (da igrejinha) na frente e comecei a descer com o Mantecon colado na minha roda. No final da descida, ele me ultrapassou em um drop de pedras. Eu não tinha braços pra segurar a bike. Ele abriu uma pequena distância, mas muito difícil de ser recuperada. Segui perseguindo até a chegada, mas não consegui a vitória.
Lógico que queria demais vencer esta etapa de XCO, mas analisando o contexto fiz uma grande prova.
Sergio Mantecon é da primeira linha da elite mundial. Top 10 na geral da Copa do Mundo e 6° colocado no Campeonato Mundial e setembro.
Ontem cheguei na reserva e estamos buscando um bom resultado na geral. Já a dupla da Trek, vem demonstrando estar mais preocupada com as vitórias em etapas (posso estar errado). Não vou dizer que fiquei super satisfeito, mas fico feliz de dar um pouco de trabalho pra um piloto do nível dele.
Falando do nosso desempenho como dupla. O Sherman vinha fazendo uma ótima prova, que seria suficiente até para cogitar uma vitória ou pódio no tempo combinado das duplas, mas ele teve um furo na quarta volta, de um total de cinco. Uma baita perda para nós que agora devemos cair na classificação geral. Porém a jornada é longa e ainda temos muito chão pra rodar.
Só mais 4 dias!”
Fonte: Bike Magazine
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