Essa foi a escolha dos primos Artur Soares e Philipp Andrade Berndt, de 21 e 20 anos respectivamente. Há cerca de três anos eles usam a “magrela” como principal meio de transporte na capital baiana. Os dois listam a falta de estrutura do transporte público e o cuidado com o meio ambiente como os principais motivos para optar pela bicicleta.
A missão dos dois jovens não é fácil. Mais de 970 mil veículos, entre carros, motos, ônibus e caminhões, circulam na capital baiana e região metropolitana todos os dias, de acordo com dados fornecidos pelo setor de Coordenação de Planejamento, Gestão e Estatística do Departamento Estadual de Trânsito (Detran-BA). Segundo informações da Associação de Bicicleteiros da Bahia, cerca de 10 mil ciclistas são cadastrados em Salvador e, se levar em conta os ciclistas não cadastrados, esse número sobe ainda mais.
Artur Soares usa a “bike” desde os 18 anos. Ele optou por não ter um carro e começou, ainda na escola, a usar a bicicleta. “A bicicleta sempre foi mais interessante para mim. Na conjuntura atual do planeta preferi não ter um carro. Faço tudo de bike, inclusive viajar quando possível”, conta.
O primo, o estudante de geografia da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Philipp Berndt, aos 18 resolveu seguir os mesmos passos de Artur. Quando cursava o 3º ano do ensino médio, começou a ir às aulas da escola de bicicleta. “Até o 2º ano meus pais me levavam de carro ou eu ia de ônibus, então tive influência do meu primo, criei coragem e fui [andar de bicicleta]”, lembra Philipp. A mudança, segundo ele, foi notória. O estudante começou a chegar mais cedo nas aulas, a economizar tempo e o principal, “a qualidade de vida e a resistência física melhoraram”.
Viagens
Para os dois primos Artur e Philipp, andar sobre duas rodas também é sinônimo de aventura. Os dois já fizeram viagens para outras cidades apenas de bicicleta.
Aos 18 anos, Artur viajou de Salvador para Recife, a 897 km da capital baiana, na companhia de outro primo, que também estava de bicicleta.
Foram doze dias de viagem. “Fomos bem recebidos por onde passávamos, foi bem legal!”, conta. Antes da capital pernambucana, Artur foi de bike para Barra Grande e Praia do Forte, ambas, praias da Bahia.
Em dezembro de 2010, Philipp Berndt também viajou em busca de uma experiência diferente do dia-a-dia dele com a bicicleta. “Fui de Salvador até Itacaré [a 397 km de Salvador] junto com um amigo. Fomos de bicicleta e levamos pouco mais de dois dias para chegar. A viagem foi muito tranquila”, conclui.
Estranheza e influências
Artur Soares é um dos organizadores do movimento bicicletada em Salvador |
Quando tomou a decisão em usar a bicicleta para tudo, surpreendeu a família, mas com o tempo todos se acostumaram com a ideia e até “ensaiam” seguir os passos do estudante. “Minha mãe já usa a bicicleta para algumas coisas e hoje já não se preocupa tanto com a minha segurança”, conta.
Para Philipp, a estranheza de família e amigos não foi diferente. “Quando comecei [a andar de bicicleta], minha família tinha um pouco de receio, mas já apoiava até mesmo por causa da influência do meu primo e com o tempo foi ficando tranquilo. Na escola eu sentia muito o olhar de admiração das pessoas, mas ninguém tinha coragem de deixar a zona de conforto para andar de bicicleta”, relata.
Liberdade
Para Artur Soares, a ideia de autonomia e liberdade influenciou bastante na sua decisão de adotar a bicicleta como único meio de transporte. “Achei que usar a bicicleta me daria uma autonomia e liberdade de movimento na cidade independente do uso de dinheiro.” Os dois primos, que fazem parte do Movimento Bicicletada Salvador, gastam cerca de R$ 200 por ano com a manutenção da bicicleta, um valor bastante inferior ao que gasta um indivíduo que anda de carro ou de ônibus na capital baiana.
Qualidade de vida e ganho de tempo são alguns dos benefícios apontados pelos dois ciclistas. Artur mora no bairro do Stiep e, de bicicleta, em cerca de 30 minutos, chega a Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia (UFBA), no Canela, todos os dias. De carro ou de ônibus, o percurso é feito em 35 a 40 minutos, sem contar o tempo de espera do coletivo e sem engarrafamento.
“Só deixo a bicicleta em dias de muita chuva, mas minha última experiência foi péssima. Estava chovendo muito e resolvi pegar um ônibus. Passei um estresse grande porque esperei o coletivo por muito tempo e não passou. Voltei para casa, peguei a bicicleta, mesmo na chuva, coloquei uma bermuda que podia molhar e outra em uma sacola para trocar na faculdade e fui na chuva mesmo”, lembra.
Philipp mora na Avenida Vasco da Gama e tem aulas da faculdade no Canela e Ondina, além do curso de Alemão no bairro do Itaigara e as aulas de capoeira no Garcia. Quanto tempo ele gasta para chegar a cada destino? Cerca de 15 minutos, pouco menos ao tempo gasto por quem faz o mesmo percurso de ônibus ou carro. A vantagem, para ele, é não enfrentar os engarrafamentos e não esperar por ônibus. Os dois primos nunca tiveram carro, usam a opção como carona em raras ocasiões.
Fonte:Portal G1
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